Mensagem - Quaresma 2013

2.A Fé é fonte da nossa Caridade

O nosso olhar sobre o mundo, nesta hora de dificuldades e de procura, é iluminado pela Fé. Abundam comentários, análises, estudos sobre a situação, tal como previsões sobre o próximo futuro. São bem-vindos, mas há que ir mais longe na visão da realidade e na resposta aos desafios. Queremos olhá-la, compreendê-la e agir sobre ela com os olhos e o coração de Deus. Queremos, como lembrou o II Concílio do Vaticano “ler os sinais dos tempos”, com aquele “coração que vê” (cf. Bento XVI, Deus Caritas est, 31,b), que é o olhar de Cristo, o verdadeiro Bom Samaritano, sobre todas as pessoas, em particular as que sofrem mais.

A Fé leva-nos mais longe no modo de amar. Por ela ultrapassamos o humanitarismo, a solidariedade, a assistência pontual. Pela Fé conhecemos a grandeza do amor de Deus e recebemos esse amor sem limites que nos capacita para amar com o amor recebido de Deus: amor que não só nos leva a prestar ajuda momentânea ao próximo, mas também a trabalhar pela sua libertação plena. Pela Fé, que actua pela Caridade, construiremos a justiça e a paz.

O melhor e mais belo serviço que podemos prestar ao próximo, a partir da Caridade, é a Evangelização ou seja a oferta do pão da Palavra de Deus ao mundo faminto de verdade e de amor. “Não há acção mais benéfica e, por isso, caritativa com o próximo do que repartir com ele o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a Evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana” (ibid., 3).


3.Um programa de Quaresma para crescer na fé e na caridade.

A Quaresma prepara-nos para a Páscoa da morte e da ressurreição do Filho de Deus. A Fé faz-nos ver na Páscoa de Jesus a grandeza do Amor de Deus e a sua vitória sobre o mal e a morte. A Quaresma leva-nos à Páscoa pelo caminho da conversão: “A caridade faz-nos entrar no amor de Deus... faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo faz-nos participar da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm5, 5)” (ibid., 4).

Quem não precisa de sentir o amor de Deus e de aprender a amar com o amor de Deus?

Fazem parte da pedagogia quaresmal – uma pedagogia de conversão integral de cada cristão e de cada comunidade – a oração, o jejum, a esmola.

Pela oração mais frequente e alimentada pela Palavra de Deus (a lectio divina), lida a sós ou, melhor, em grupo, cresce o nosso convívio com Deus e o nosso coração vai ficando mais atento e sensível a Deus – e ao Seu projecto de sociedade fraterna – e aos irmãos que mais sofrem.

Pelo jejum e abstinência, segundo as propostas da Igreja que urge conhecer bem para as vivermos no espírito eclesial, cultivaremos o desprendimento do que é supérfluo e secundário, para crescer na liberdade de viver os verdadeiros valores que os mandamentos de Deus apontam.

Pela esmola, praticada de modo esclarecido e adequado ao nosso tempo, partilharemos o que nos sobra e o que pouparmos para acudir a quem não consegue, sozinho, obter o mínimo necessário para viver dignamente, em particular os idosos com parcas pensões e os desempregados.

Como expressão e fruto das nossas renúncias, durante o ano, sobretudo na Quaresma, entregaremos nas paróquias, em sobrescrito próprio e conforme indicações do pároco, este sinal de amor. A renúncia quaresmal de 2012 recolheu 33.162,59 euros para o Vale de Acór e 3.684,73 para o Fundo Diocesano de Emergência. A renúncia quaresmal da nossa Diocese, neste ano, apoiará em 70% o Fundo Diocesano de Emergência Social, sendo o restante para o Centro de Dia de Sto. António da diocese S. Tomé e Príncipe e para os “Refugiados católicos na Síria”.

Caros Diocesanos

O tempo da Quaresma é propício para testemunhar a Fé e a Caridade, na relação profunda que existe entre ambas: acolhimento do amor de Deus que nos rodeia com o seu carinho, aprendendo com Ele a amar o próximo no serviço livre e feliz aos mais pobres.

Neste sentido, peço ao Senhor que nos ajude a viver a Quaresma de modo empenhado e feliz, fazendo-nos próximos, sobretudo dos doentes e de suas famílias, de quem vive a solidão forçada, dos pobres, presos e vítimas das drogas, de quem não tem o mínimo necessário para viver. Por fim, peço ao clero, aos catequistas, aos que têm alguma responsabilidade na comunidade e aos pais que ajudem a quem ande descuidado – sem esquecer as crianças e os doentes – a viver esta exercitação quaresmal como experiência do amor de Deus e aprendizagem de amor ao próximo.

Nesta esperança invoco a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo sobre todos vós.


+Gilberto, Bispo de Setúbal
1/2/2013